Nota de apoio aos servidores, indígenas e indigenistas alvos de perseguições pela Presidência da Funai (atualizada!)

A INA – Indigenistas Associados, associação de servidores da Funai, foi uma das signatárias da Nota de Apoio em defesa dos direitos dos povos indígenas.

Através da nota, as entidades demonstram preocupação com a postura de intimidação, assédio e tentativa de criminalização como estratégia de gestão do atual presidente da Funai, Marcelo Xavier. Confira na íntegra a Nota Pública Conjunta assinada por mais de 158 movimentos, organizações da sociedade civil, mandatos e frentes parlamentares em defesa dos direitos dos Povos Indígenas:

Baixe e leia a Nota de Apoio em PDF

Nota de apoio aos servidores, indígenas e indigenistas alvos de perseguições
pela Presidência da FUNAI

Vimos a público externar grande preocupação e indignação com a notícia de que, mais uma vez, o Presidente da Funai denunciou à Polícia Federal indígenas, servidores e indigenistas que atuam na proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas no país. Essa prática de criminalização é o modus operandi de uma gestão que se instaurou desde o início do Governo Bolsonaro e que não nega sua origem e aura policialesca.

Essa conjuntura autoritária ganhou novos contornos no dia 12 de maio de 2021, com a abertura de inquérito policial, a partir de denúncia feita pela própria Funai, para averiguar suposta ilegalidade na atuação de servidores, de uma organização indígena e de um indigenista, no processo de licenciamento ambiental da linha de transmissão de energia Manaus-Boa Vista (conhecida como “Linhão”), que corta a Terra Indígena (TI) Waimiri-Atroari, situada nos estados do Amazonas e de Roraima.  Ao acionar a Polícia Federal e lançar suspeitas criminais sobre servidores, indígenas e seus aliados, a gestão da Funai demonstra claramente a que veio: servir aos interesses de grandes empresas e de setores notadamente anti-indígenas.

A instauração de um inquérito policial dessa natureza se configura, ainda, uma afronta à história recente dos Waimiri-Atroari, que, apesar da enorme resistência, viram seu povo quase ser dizimado em período recente da história brasileira, entre os anos 70 e 80, durante a ditadura militar, por meio do processo de instalação de outro projeto de desenvolvimento – a BR-174 – que atravessou seu território tradicional. Os Waimiri-Atroari ainda enfrentaram – e enfrentam até hoje – os problemas oriundos da instalação de uma empresa de mineração em suas terras e o alagamento de parte do seu território em decorrência da construção da hidrelétrica de Balbina. A experiência dos Waimiri-Atroari, assim como de muitos outros povos indígenas no Brasil, com projetos de desenvolvimento que afetam seus territórios, é traumática – o que, por si só, explica seus temores com o projeto do Linhão.

Ressalte-se que é direito desses povos, e dever do órgão indigenista, o respeito ao que preconiza a Convenção 169 da OIT, ratificada no Brasil, no que se refere aos mecanismos de consulta livre, prévia e informada, além do protagonismo dos povos indígenas e tribais em processos decisórios sobre quaisquer projetos ou empreendimentos que afetem seus territórios e povos.

Estamos vivendo um estado de exceção dentro do órgão indigenista oficial, em que a defesa dos direitos indígenas, atribuição do órgão, garantida pela autonomia de seu corpo técnico, convertem-se em seu contrário: perseguição e intimidação de servidores. O cerceamento ao trabalho de servidores em defesa dos povos indígenas, identificados como contrários aos interesses da atual direção da Funai ou do Governo Federal, representam a institucionalização de  práticas de assédio por meio de diversas formas de intimidação e agravam-se com as denúncias de servidores da Funai e indígenas à Polícia Federal, realizadas pela própria Presidência do órgão.

Essa conduta persecutória fica bem caracterizada na manifestação da Procuradoria da República no Amazonas pelo arquivamento do inquérito policial do Linhão, em que observa que a representação da Presidência da Funai adiciona investigação criminal como “componente de pressão política nas negociações do Plano Básico Ambiental – Componente Indígena do Linhão de Tucuruí”, quando o interesse do órgão indigenista oficial deveria ser justamente garantir o respeito a todos os protocolos estabelecidos pela comunidade indígena, de modo a promover e proteger os seus direitos no âmbito do processo de licenciamento ambiental. A peça do MPF demonstra, inclusive, a necessidade de que seja averiguado se houve, da parte da gestão da Funai, a prática de improbidade administrativa e de abuso de autoridade.

Importa lembrar que esta não é a primeira vez que manifestações técnicas de servidores e a atuação de indígenas em defesa de seus direitos são convertidas em “casos de polícia” pela nova gestão do órgão indigenista; e essa prática não pode, sob hipótese alguma, ser normalizada ou ocultada. Lembramos dois casos recentes de inquéritos policiais abertos a pedido da Funai: um contra a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e a líder indígena Sônia Guajajara e outro contra o líder Almir Suruí, inquéritos que já foram arquivados por falta de elementos mínimos, demonstrando o caráter persecutório e intimidatório da denúncia realizada pelo próprio órgão indigenista contra os indígenas.

Diante dessa situação absurda, em que a Presidência do órgão indigenista passou a atuar reiteradamente contra os direitos de indígenas e dos próprios servidores, nos solidarizamos com os servidores, indígenas e indigenistas que são alvos dessas investidas e nos posicionamos terminantemente contra qualquer tentativa de intimidação a servidores, bem como de afronta aos direitos indígenas à autonomia e às formas apropriadas de consulta sobre projetos e empreendimentos que afetem seus territórios e suas vidas.

11 de junho de 2021.

Assinam esta Nota as organizações, entidades e os movimentos abaixo listados:

  1. Sindicato Intermunicipal dos Servidores Públicos Federais dos Municípios do Rio de Janeiro – SINDISEP/RJ
  2. Indigenistas Associados – INA
  3. Aldeia Marakanã Rexiste
  4. Amazon Rebellion (Reino Unido)
  5. Articulação das CPT’s da Amazônia
  6. Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB Rio
  7. Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
  8. Articulação dos Povos Indígenas do Maranhão – Coapima
  9. Asociación Cultural Brasileña Maloka (Espanha)
  10. Associação Brasileira de Antropologia – ABA
  11. Associação Brasileira de Gestão Cultural – ABGC
  12. Associação Brasileira do Combate ao  Lixo Marinho – ABLM
  13. Associação Círculo Laranja
  14. Associação da Comunidade Indígena Kanela do Araguaia – ACIKAN
  15. Associação das Comunidades de Montanha e Mangabal
  16. Associação das Mulheres Munduruku Wakoborūn
  17. Associação de Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais na Bahia – AATR/BA
  18. Associação de Servidores da Biblioteca Nacional – ASBN
  19. Associação de Servidores do Ibama e ICMBio no Acre – Asibama/AC
  20. Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre – AMAAIC
  21. Associação dos Arquivistas da Bahia – AABA
  22. Associação dos Arquivistas do Estado do Espírito Santo – AARQES
  23. Associação dos Arquivistas do Estado do Rio Grande do Sul – AARS
  24. Associação dos Estudantes Secundaristas do Estado do Rio de Janeiro – AERJ
  25. Associação dos Funcionários do INPI  – AFINPI
  26. Associação dos Povos Indígenas Negarote e Tamandu – Apineta
  27. Associação dos Retireiros do Araguaia – ARA
  28. Associação dos Servidores da Carreira de Especialistas em Meio Ambiente e do Plano Especial de Cargos do Ministério do Meio Ambiente (Pecma) em São Paulo – Ascema/SP
  29. Associação dos Servidores da Carreira de Meio Ambiente no Rio Grande do Norte – Ascema/RN
  30. Associação dos Servidores da Cultura – AsMinC
  31. Associação dos Servidores do Ibama em Santa Catarina – Asibama/SC
  32. Associação dos Servidores do Incra no Estado do Rio de Janeiro – Assincra
  33. Associação dos Servidores do Ipea e Sindicato Nacional dos Servidores do Ipea – Afipea-Sindical
  34. Associação dos Servidores do Ministério Público do Trabalho e Ministério Público Militar – ASEMPT
  35. Associação dos Servidores do Proderj – ASCPDERJ
  36. Associação dos Servidores Federais da Área Ambiental no Estado do Rio de Janeiro – Asibama/RJ
  37. Associação dos Servidores Públicos Federais Agrários – CNASI-AN
  38. Associação Nacional da Carreira de Desenvolvimento Políticas Sociais – Andeps
  39. Associação Nacional de História – ANPUH
  40. Associação Nacional de História Seção Regional do Rio de Janeiro – ANPUH/Rio
  41. Associação Nacional dos Servidores de Meio Ambiente – Ascema Nacional
  42. Associação Pastana Yudja Juruna do Xingu – APYJX
  43. CasaNem, CasaViva
  44. Central Única da Família Indígena Terena de Mato Grosso – Cufain
  45. Central Única dos Trabalhadores – CUT
  46. Centro de Direitos Humanos de Porto Nacional em Tocantins – CDHPN/TO
  47. Centro de Referência em Direitos Humanos do Semiárido – Ufersa
  48. Centro de Trabalho Indigenista – CTI
  49. Centro de Yoga e Meditação Ananda Marga/DF
  50. Cineclube Marighella
  51. Colectivo ALMA – África y Latinoamérica en Mallorca (Espanha)
  52. Coletivo À Esquerda da Praça/RJ
  53. Coletivo Amsterdam pela Democracia no Brasil
  54. Coletivo Antroposofia e Política
  55. Coletivo de Educadores Classistas da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB/RJ
  56. Coletivo Mulheres Insubmissas da Universidade do Estado da Bahia – Uneb/Campus X
  57. Coletivo Mururu/Rede (CO)Vida – Rede de mapeamento da pandemia da Covid-19 entre os povos indígenas no Maranhão
  58. Coletivo pelos Direitos no Brasil em Madri (Espanha)
  59. Coletivo RessurGentes
  60. Collectif Alerte France Brésil / MD18 (França)
  61. Comissão de Direitos Sociais da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Rio de Janeiro – CDSIS-OAB/RJ
  62. Comissão Especial de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas – Ceddindigenas OAB-DF
  63. Comissão Pró Índio do Acre – CPI/AC
  64. Comitê de Luta Contra as Privatizações
  65. Comitê Italiano Lula livre (Itália)
  66. Comunidade de Saúde, Desenvolvimento e Educação – COMSAÚDE
  67. Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal – CONDSEF
  68. Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania do Rio Grande do Norte – COEDHUCI/RN
  69. Conselho Geral da Tribo Ticuna – CGTT
  70. Cooperativa Agroextrativista Shawãdawa Pushuã
  71. Democracy for BRASIL (Reino Unido)
  72. Federação dos Povos Indígenas do Pará – Fepipa
  73. Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Estado do Rio de Janeiro – FETAG/RJ
  74. Federação Nacional dos Estudantes no Ensino Médio – FENET
  75. Fórum da Amazônia Oriental – FAOR
  76. Fórum de Articulação estadual de Travestis e Transexuais do Estado do Rio de Janeiro. – Fórum TT RJ
  77. Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro/RS
  78. Fórum de Mulheres do Espírito Santo/ES
  79. Fórum Nacional das Associações de Arquivologia do Brasil – FNArq
  80. Frente Internacional Brasileira Contra o Golpe e pela Democracia – FIBRA
  81. Frente Internacionalista dos Sem Teto – FIST
  82. Frente LGBTIA+ do Rio de Janeiro
  83. Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas
  84. Frente Parlamentar Mista do Serviço Público
  85. Frente Preta UK (Reino Unido)
  86. Gerar Consultoria Ambiental
  87. Grêmio Estudantil Síntese do Instituto Federal Fluminense – IFF Cabo Frio
  88. Grupo de Consciência Negra do Tocantins – GRUCONTO
  89. Grupo de Defesa Ecológica Pequena Semente
  90. Grupo de Pesquisa Cultura, Ambiente e Território da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – CAMTO/UFRB
  91. Grupo de Pesquisa em Conservação de Recursos Naturais de Uso Comum – GRUC/Unisul
  92. Grupo Marias de Extensão e Pesquisa em Gênero, Educação Popular e Acesso à Justiça da Universidade Federal da Paraíba – UFPB
  93. Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro – GTNM/RJ
  94. Grupo Transrevolução
  95. Instituto Cultural D. Isabel I a Redentora – IDII
  96. Instituto de Desenvolvimento Indígena – INDI
  97. Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC
  98. Instituto de Mulheres da Amazônia – IMA
  99. Instituto de Pesquisa e Estudos em Justiça e Cidadania – IPEJUC
  100. Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Proprietas – INCT Proprietas
  101. Instituto Pé de Planta Desenvolvimento Biotecnológico, Humano e Ambiental
  102. International Rivers – Brasil
  103. Jornal Vias de Fato
  104. Laboratório e Grupo de Estudos em Relações Interétnicas – LAGERI/UnB
  105. Lalin Produções
  106. Mandato Deputada Professora Rosa Neide – PT/MT
  107. Mandato Deputada Áurea Carolina – PSOL/MG
  108. Mandato Deputada Fernanda Melchionna – PSOL/RS
  109. Mandato Deputada Luiza Erundina – PSOL/SP
  110. Mandato Deputada Sâmia Bonfim – PSOL/SP
  111. Mandato Deputada Talíria Petrone – PSOL/RJ
  112. Mandato Deputada Vivi Reis – PSOL/PA
  113. Mandato Deputado David Miranda – PSOL/RJ
  114. Mandato Deputado Glauber Braga – PSOL/RJ
  115. Mandato Deputado Ivan Valente – PSOL/SP
  116. Marcha Mundial por Justiça Climática / Marcha Mundial do Clima
  117. Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia – MAMA
  118. Movimento Baía Viva / RJ
  119. Movimento Bem Viver
  120. Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – Região dos Lagos/RJ
  121. Movimento de Mulheres Camponesas – MMC Brasil
  122. Movimento de Mulheres da Região dos Lagos – MMRL
  123. Movimento de Mulheres Olga Benário/RJ
  124. Movimento Inter-Religioso do Rio de Janeiro – MIR
  125. Movimento Karaxuwanassu
  126. Movimento Munduruku Ipereg Ayu
  127. Movimento Nacional Contra Corrupção e pela Democracia – MNCCD
  128. Movimento Negro Perifa Zumbi
  129. Movimento Negro Unificado – MNU Nova Iguaçu/RJ
  130. Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
  131. Movimento Xingu Vivo Para Sempre
  132. Núcleo de Estudos de Populações Indígenas da Universidade Federal de Santa Catarina – NEPI/UFSC
  133. Núcleo de Estudos Urbanos, Regionais e Agrários da UFT – NURBA/UFT
  134. Núcleo José do Patrocínio
  135. Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato – OPI
  136. Observatório Indigenista
  137. ONG Floresta Viva
  138. Organização de Mulheres Indígenas do Acre – Sitoakore
  139. Organização dos Professores Indígenas do Acre – OPIAC
  140. PreparaNem
  141. Pública – Central do Servidor
  142. Rede Brasileira de Casas de Acolhida LGBTIA+
  143. Rede Brasileira de Prostitutas
  144. Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas – MAKIRA ËTA
  145. Sindicato dos Arquitetos no Estado do Rio de Janeiro – SARJ
  146. Sindicato dos Bancários de Brasília – SEEBB
  147. Sindicato dos Professores no Distrito Federal – SINPRO/DF
  148. Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado do Ceará – SindJustiça/CE
  149. Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Distrito Federal – SINDSEP/DF
  150. Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do IFRJ – SINTIFRJ
  151. Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Universidade Federal Fluminense – SINTUFF
  152. Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Estado do Pará – SINTSEP/PA
  153. Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central – Sinal/RJ
  154. Sindicato Nacional dos Gestores em Ciência e Tecnologia – SindGCT
  155. Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério Público da União, Seção SP – SINDMPU/SP
  156. Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE – ASSIBGE SN
  157. União Cabofriense dos Estudantes – UCE
  158. União Nacional dos Estudantes – UNE

3 comentários em “Nota de apoio aos servidores, indígenas e indigenistas alvos de perseguições pela Presidência da Funai (atualizada!)

  1. A FUNAI órgão do Estado Brasileiro, e não de governos, é uma Fundação criada pela suporte as comunidades indígenas, nas áreas de Saúde, educação, assistência quanto a manutenção de suas formas de sobrevivência e suas referências culturais e espirituais. E manter seus territórios demarcados e com fiscalização contra desmatamentos e invasões.

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